Friday, November 04, 2005

"Sempre quis aprender gaélico escocês, com tom imperioso na sonância e com sotaque, mas era taxado de excêntrico e arre! Como é difícil encontra um curso que ensine. Eu queria ser excêntrico, é sério! Mas nunca me deixaram ser, ai pensei em ser altista, altista por opção, e me cansei de ficar pensando nisso.
Da mesma maneira que fui católico, católico só não, espírita, simpatizante do budismo, do xintoísmo e todas as sagradas religiões dos ísmos. E me cansei. Cansei de ter um padre, um médium, uma monja como exemplos a serem seguidos. O que não me torna, necessariamente um ateu. A educação militar sempre me ensinara que fora meus pais, só devia servir a Deus e ao meu País. Na verdade eu nunca entendi bem qual a ordem desses três. Colocando o ponto nos is, eu fui obrigado a seguir os três segamente, como o “s” da última palavra.
E assim me virei, laconicamente falando, entre meus estudos e minha casa. A velha casa da rua Morgue, que nunca chegou a ser uma grande casa, mas que na minha adolescência era vigiada por uma guarnição da policia. Era ditadura militar, meus caros, com os tá-tá-tá-tá das armas do quartel ao lado e com a fobia a comunistas e tudo.
Nossas manhãs eram pães recheados de sangue de revolucionários idiotas que perdiam a vida em busca da liberdade. A liberdade que meu pai assim como aqueles de farda e charutos trouxeram. E para não comermos secos, ainda tínhamos o suco das ações de nosso querido e imortal presidente Médici, que morrera (por acaso do destino) e depois de nosso outro imortal Geisel. Ainda tinha torta de Jules Rimet e de barro amazônico. Como pude acreditar um dia nisso?
Mudar, eis uma palavra de ordem sempre utilizada nesses casos. Mudança. "Só conseguiremos mudar o mundo com revolução!" ou "Eu sou comunista pra exigir mudança!" ou "Tenho que mudar a sala, ela está velha, e com casas de aranha". Essa ultima frase não tem muito haver, mas eu pretendia fazer um parágrafo longo.
Não que fosse por fim um comunista, me defino um socialista quieto e moderado que guardava a sete chaves o livro do grande timoneiro e do barbudo Marx ao invés de guardar com mais cuidado aquelas revistas de mulher pelada que trouxera dos Estados Unidos e que minha mãe escondera após a descoberta.
Um socialista... Comunista, não. A fobia me deixara traços. Comunistas comiam criancinhas ou eram homicidas em potencial. Não queria ser deportado pra Sibéria.

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